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Entenda como investimentos em educação interferem na qualidade do ensino

  • Foto do escritor: EDUK
    EDUK
  • 18 de jun. de 2019
  • 6 min de leitura

Atualizado: 31 de out. de 2019

Alunos de escolas municipais em Curitiba recebem, em média, um investimento de R$ 10 mil anuais


Por Carolina Andrade, Gabriel Dittert, Luca Matheus e Thais Porsch

De acordo com dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba (SME), um aluno custa o total de R$ 872,00 mensais, gerando um valor de mais de R$ 10 mil investidos por estudante matriculado. A verba é repassada por liberações automáticas da Secretaria Municipal de Finanças e é destinada a todos os segmentos da educação básica.


GRÁFICO


A rede de ensino municipal atende mais de 140 mil alunos matriculados em 185 escolas e Centros Municipais de Ensino Infantil (CMEI), segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). Os investimentos devem contemplar gastos como acessibilidade, alimentações restritas (como sem glúten ou sem lactose), infraestrutura, materiais didáticos, transporte, segurança, entre outros aspectos.


A destinação da verba é feita de acordo com o número de alunos da educação básica, e com base no Censo Escolar do ano anterior. Os municípios, segundo as normas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), devem utilizar o dinheiro na Educação Infantil e Ensino Fundamental, enquanto o Estado no Fundamental e Médio.


No mínimo 60% deve ser aplicado na remuneração de profissionais do magistério de educação de base e o restante em outras despesas de manutenção e desenvolvimento da educação básica, que se referem à aquisição de móveis, materiais didáticos, televisores, projetores, bem como despesas com água, esgoto e energia elétrica.


De acordo com a ex-diretora de uma escola municipal, Edina Aparecida Rocha, 54, uma escola possui vários gastos, e deve prestar contas à prefeitura de três em três meses. Com a verba recebida, a escola aplica comprando materiais para almoxarifado, de expediente, produtos de limpeza ou mesmo com reparos estruturais, feitos por empresas terceirizadas.

Segundo a educadora, a tarefa não é fácil, já que a verba é reduzida e tem de ser distribuída. Dessa forma, o pouco investimento acaba por afetar a qualidade da escola.


“Temos que trabalhar com pouco investimento para a compra de materiais didáticos, jogos e outros materiais em prol do aluno e da aprendizagem. Se o governo aumentasse essa verba, com certeza teríamos melhores condições para oferecer aos nossos alunos”, comenta a Edina.


“De acordo com minha experiência como diretora, com certeza o governo deve investir mais na escola pública, porque a prioridade é o aluno, que estudando em uma escola bem equipada, onde possa ter o maior conhecimento de tecnologia, livros, alimentação e inúmeras outras coisas que um aluno precisa na escola pública, o retorno para essa criança seria muito favorável”, acrescenta ela.


Quando se trata de dados relacionados à infraestrutura, como demonstra o infográfico a partir de dados divulgados em 2018 pelo INEP, das 403 escolas públicas municipais avaliadas, urbanas e rurais, apenas 46% possuem bibliotecas, enquanto apenas 6% possuem sala de leitura. Por outro lado, as escolas particulares, de um total de 485 escolas avaliadas, 66% possuem biblioteca, enquanto 36% possuem sala de leitura.


Quando o assunto é laboratório de ciências, apenas 6% das escolas municipais possuem o espaço, enquanto particulares representam um total de 29%.


Comparadas às médias nacionais, Curitiba fica atrás em relação ao número de escolas públicas municipais que possuem laboratórios e as salas de leitura, mas supera a média brasileira quando se trata de laboratório de informática, biblioteca, sala para diretores e professores e quadra de esportes.


A desigualdade como um problema central


Para o doutor e sociólogo Lindomar Boneti, questões como possuir um laboratório de ciências e acesso à água filtrada nas escolas são muito importantes, mas o grande problema da desigualdade está no contexto social. “É muita injustiça um espaço educacional, por exemplo, não ter água filtrada, é o mínimo que poderia ter. Isso faz diferença. Mas acho que o grande problema da escola pública não está dentro dela, está fora. As diferenças sociais que existem, as desigualdades sociais das periferias urbanas, os conflitos familiares, a família que não consegue gerenciar os filhos e não consegue se fazer presente na escola, isso leva a grandes problemas que são do contexto social para dentro da escola, com a violência, por exemplo.”


Segundo Boneti, para melhorar o interior das escolas públicas é preciso que as administrações públicas invistam em qualidade de vida nas periferias, além disso, a escola apenas absorve os conflitos externos.


Para o sociólogo, tudo isso afeta no aproveitamento do aluno, “a falta de infraestrutura influencia sim na vida e na progressão, e especialmente no fato da evasão escolar, mas também temos que considerar, por exemplo, a condição das famílias de periferias”.


Dificuldades do dia-a-dia


Cássio Leandro, 30, mestre em atividade física e saúde e professor de educação física na rede municipal de ensino, diz que o que mais interfere no exercício da profissão é a questão estrutural.


“Um exemplo é que Curitiba é uma cidade que chove muito, e a quadra coberta, que é a única da escola onde eu trabalho, molha bastante. Então não temos como utilizar quando chove. Quando sai sol, eu não sou o único professor, existem mais, e sobram pouco espaços cobertos na quadra para utilizar. Isso acaba sendo um pouco complicado na hora de trabalhar com os estudantes”, comenta o professor.


Para o profissional, se pudesse haver mais investimento, deveria ser em infraestrutura e tecnologia, já que os estudantes passam mais tempo na escola do que em casa. “Com relação à tecnologia, hoje a Base Nacional Curricular Comum foca muito na parte tecnológica. Hoje eu não vejo as escolas municipais preparadas para trabalhar nesse sentido. Há computadores que às vezes funcionam e às vezes não, com internet que não é o suficiente para desenvolver um bom trabalho. Hoje o universo e toda a parte da sociedade é focada nessa parte, então é algo que precisa ser mais desenvolvido dentro das escolas”, finaliza ele.

Prefeitura de Curitiba

Painel sobre cooperativismo, pintado na Escola Municipal Herley Mehl. Curitiba, 17 de maio de 2019. Foto: Valdecir Galor/SMCS


Instituto em Curitiba impacta a vida de jovens


Pensando na problemática educacional do país, o Instituto Bom Aluno é uma organização privada sem fins lucrativos que possui empresas mantenedoras para funcionar. O objetivo do grupo é inserir jovens carentes em escolas particulares, promovendo um processo seletivo e selecionando os estudantes com as melhores notas de escolas públicas, para serem capacitados para o futuro acadêmico e profissional, inserindo-os no ensino privado por meio de bolsas.


A diretora do Bom Aluno, Maria Isabel Grassi Dittert, explica que antes desses jovens serem inseridos nas instituições particulares, é necessário capacitá-los. “Nós preparamos os alunos tanto na parte acadêmica, em nivelamento de português e matemática, por acreditarmos que são duas disciplinas básicas para o desenvolvimento das demais.”


Isso porque, segundo Maria Isabel, as escolas públicas possuem algumas defasagens em relação às particulares, em que a tecnologia acaba por aprofundar a discrepância, criando um abismo social. Outra questão é que, ainda que os jovens recebam bolsas para instituições particulares, existem custos adicionais na manutenção do estudo. “Existe todo um custo de locomoção, alimentação, material escolar, acesso à tecnologia, que muitas vezes as bolsas não conseguem atender. Então tem que ter uma estrutura de apoio, para que os alunos tenham condições para desenvolver o estudo”, argumenta a diretora.


A estudante Adrielly da Silva Mezavilla, 19, entrou em 2013 no Instituto Bom Aluno. Sua trajetória no programa começou aos 12 anos de idade. Vinda de uma família de baixa renda, ela foi selecionada pela diretora do colégio público, onde estudava na época, para participar da iniciativa e ter a oportunidade de concorrer a uma vaga em um colégio particular.


Antes de realizar a prova para pleitear uma vaga no colégio Bom Jesus, ela passou por um difícil processo de preparação. “A educação no colégio público é muito diferente do particular. Assim, ficamos um ano fazendo preparatório para se equivaler com o que outras crianças do colégio particular já estavam estudando. Foi um ano bem difícil, era um esforço muito grande para uma crianças de 12 anos. A gente ficava de manhã na escola, e de tarde estudávamos no instituto, e ainda estudávamos fora do horário”, relata Adrielly.


Adrielly diz que é muito importante a assistência que o instituto fornece para que os alunos possam se manter estudando, tendo desde transporte, terapia, materiais escolares e yoga, até cursos de oratória, inglês, Excell, desenvolvimento pessoal, hábitos de estudo e outros. “Eles dão toda a assistência que as crianças precisam. Todo o acompanhamento para desenvolver tanto como pessoa, quanto como estudante. Fazem com que aquele cidadão se torne melhor culturalmente, intelectualmente e socialmente”, comenta ela.


Dessa forma, em 2014 a estudante realizou o exame, e foi aprovada, completando seu ensino médio na instituição. Atualmente, Adrielly cursa Administração na Universidade Federal do Paraná, além de ser voluntária no instituto.



 
 
 

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